Capítulo 1

Eficiência da aplicação de agrotóxicos

Não há, nem no Brasil nem no exterior, informações concretas sobre os desperdícios que ocorrem durante as pulverizações de agrotóxicos. Algumas delas, disponibilizadas na literatura internacional, apontam que as aplicações de agrotóxicos são extremamente ineficientes. Contudo, tais informações se fundamentam apenas em fatos teóricos, ou seja, baseiam-se nas doses de agrotóxicos teoricamente necessárias para o controle de populações das pragas que produzem dano econômico.

Estudos com um novo método de determinação de volume depositado por análise de gotas – desenvolvido por Chaim et al. (1999c) e testado em um experimento com pulverização aérea de herbicidas (PESSOA; CHAIM, 1999) – demonstraram perdas de cerca de 50% do volume de calda (ver Glossário) aplicado.

Chaim et al. (1999e) verificaram que os resultados das perdas de agrotóxicos pulverizados em culturas como feijão e tomate foram elevados (Tabela 1).

Tabela 1. Eficiência da pulverização na distribuição de agrotóxicos, em culturas de feijão e de tomate.

Cultura Altura da planta (cm) Planta(1) Solo(1) Deriva(1)
Feijão 15 12 73 15
Feijão 35 44 41 15
Feijão 60 41 34 25
Tomate 40 36 28 35
Tomate 70 52 14 34

(1) Valores expressos em porcentagem de ingrediente ativo, relativa ao total aplicado.

Fonte: Chaim et al. (1999e).

Nas culturas de porte rasteiro, dadas as características intrínsecas da forma de aplicação, há uma clara tendência de a deposição concentrar-se na região do ponteiro das plantas. Comparando a deposição proporcionada por diferentes bicos de pulverização, Scramin et al. (2002) observaram, na cultura de algodão, que a média foi significativamente decrescente da região apical (45%) para a mediana (18%), e desta para a basal (7%). Esses resultados foram semelhantes aos obtidos por Chaim et al. (2000) para a cultura do feijão, em que as perdas de agrotóxico aplicado ficaram em torno de 77%.

A distribuição dos agrotóxicos em culturas de porte arbustivo foi observada em diferentes estádios de crescimento do tomate estaqueado (CHAIM et al., 1999a). De certa forma, pulverizações na cultura do tomate estaqueado servem como exemplo de aplicação de grandes volumes de calda. Os dados são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Distribuição percentual de agrotóxico estimada para a cultura de tomate em campos experimentais de Jaguariúna, SP.

Altura das plantas (cm) Planta Solo Deriva
50 24 39 37
110 35 20 45
160 41 29 30

Fonte: Chaim et al. (1999a).

A Embrapa (1994) desenvolveu um bocal eletrostático para pulverizadores motorizados costais, e Chaim et al. (1999d) realizaram testes comparando duas técnicas diferentes de pulverização na cultura do tomate estaqueado: uma com pulverizador tradicional e outra com pulverizador eletrostático.

Os equipamentos foram calibrados para que aplicassem a mesma dose de ingrediente ativo por hectare. No entanto, com o pulverizador tradicional, o volume de calda aplicado foi de 1.000 L/ha, enquanto o eletrostático aplicou apenas 20 L/ha. Os resíduos encontrados nas diferentes regiões das plantas são apresentados na Tabela 3 a seguir.

Tabela 3. Resíduos de agrotóxico verificados em diferentes regiões de plantas de tomate estaqueado, tratadas com dois tipos diferentes de pulverizadores.

Região tratada da planta Pulverizador tradicional
(μg cm-2)
Pulverizador costal motorizado eletrostático
(μg cm-2)
Inferior 0,11 1,61
Mediana 0,12 2,06
Superior 0,14 2,13
Resíduo médio 0,12 1,93

Fonte: Chaim et al. (1999d).

Observa-se que, apesar de ter aplicado aproximadamente a mesma quantidade de ingrediente ativo, o pulverizador motorizado costal proporcionou um resíduo médio nas plantas 19 vezes maior do que o proporcionado pelo pulverizador hidráulico convencional.